quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Antropofagia

os intelectuais de plantão
vão comer meu coração
não posso entrar em qualquer balada
sem antes ler a folha ilustrada
ela é que vai me dizer
o que fazer da minha ignorância

os intelectuais de lapela
enfiam o dedo na goela
pra vomitar arrogância

os intelectuais de plantão
vão comer meu coração
quantas estrelas deve ter um filme
pra me comover?
como é que se arquiteta
uma poesia concreta?
quem me ajuda na desconstrução
de uma instalação sem pé
nem cabeça?
haja erudição pra juntar as peças

não posso gostar sem pensar
mas posso gozar sem trepar
divagar  teorizar  ludibriar

os intelectuais de luneta
só sabem tocar punheta

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Couve-flor

não falo mais de amor
a quem não ouve
não peso mais outras vidas
que não leve
não louvo mais sentimento
que não valha
não subo mais montanhas
que não movo
não colho mais margaridas
agora só planto couve
Secura

entre o chá das cinco
da academia e
o boteco sujo da boemia
fico com a poesia engolida
a seco
Teias

aranhas tecem
manobras
em minhas teias
do coração vazio
o que sobra
é a palavra cheia
soltando lagartos

 e cobras
Questão de Tempo

coça a dúvida na garganta
engulo a última certeza
na hora exata
em que o relógio adianta

FOLHAS SECAS

Noite Seca

abro a porta e entro
na sala de estar
enfrento a novela
e acendo uma vela
na mesa de centro

me sento num canto
e arreganho os dentes
nun sorriso sonso
estou pronta pra engolir
noite seca adentro

(poema musicado por Dudu Caribé e Rubens Kurin)

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Alegoria

carnaval em pauta
fantasia e paetê
máscaras
do bem e do mal
street wear
prêt-à-porter
na passarela
alegoria
um legítimo fuzuê
na bateria
ritmo pro desenredo

folia que se preza
deixa cinzas
cruzes e credos
fevereiro sem reza
quarta-feira sem porquê
tudo vira falta
nostalgia
fotografia de gabeira
num biquini de crochê


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