quinta-feira, 21 de novembro de 2013

AMÉM

padres tem razão 
e rezas
pais-de-santo 
tem razão 
e ervas
gurus tem razão
e mantras
terapeutas tem 

razão e notas 

frias

porque razão todos tem
intuição
- terra de ninguém
Replay

aos quarenta e nove
aquele velho fado
toca
no disco arranhado
de novo de novo de novo
ENQUANTO FELIZES ASCETAS PROPAGAM 
A SUMA RETÓRICA DOS PADRES,
POETAS FEBRIS SUAM PARA ARRANCAR 

PALAVRAS FEÉRICAS DAS PEDRAS.
ERATO

Ninfa que se aninha leve
velada
no colo da lua cheia
- pleno entusiasmo
não é de Apolo
nem de Dionísio
diáfana
senhora da outra face
dona de si
alheia
ousa olvidar apelos fáceis
apegos

Narciso aprendeu comigo
a se ver refletido no lago

terça-feira, 12 de novembro de 2013

BONANÇA

bora dançar 
na chuva
garoar na praça
respingar na tarde
o ar da graça

essa noite
a tempestade é nossa

que o fim do mundo se faça
sentimento sem fundo

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Na Trave

A poesia tá na área

- disse o poeta da periferia -

da plateia

penso
a poesia é periférica
está na área de serviço

cuidado ao subir a escada
um tropeço e já é
nada

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

PARAMARTE
ao avesso de um mantra me confunde quando repete e repete e não afaga esconde o verso mais fácil faz que acende e me apaga tanto tantra mãos de seda para outros nada
longe demais de marte o que me sobra nem paz de iogue nem contos de fada
sou mínima parte
foto: Kais Ismail Musa

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

chuva vem
negra uva passa


sem graça na primavera

quinta-feira, 19 de setembro de 2013


Brincar

com a palavra branca

de neve
anão assim afim
claro clarão clarim
ecos de clave marfim
lençol de cambraia ou cetim
algodão doce 
derrete na boca carmim
no alvo do véu de noiva
de nuvem
de neve
sorvete de flocos 
festim


terça-feira, 30 de julho de 2013

Olho Nu

Proibido bisbilhotar
nossas cabeças não são suas 
presas
do aço da guilhotina
Medusas escapam ilesas



terça-feira, 9 de julho de 2013



Enigma

Quem entende
o que nos move ou detém
e nos comove ou convém
o que nos trai ou atrai
o que nos custe ou assuste
tempestade ou sereno
pode ser só platônico
pode até ter veneno
contanto que seja pleno
ainda que nos deixe afônicos
Quem sabe o melhor momento?
com a palavra:
o sentimento

(musicado por Márcio Pazin)

sábado, 6 de julho de 2013

anil era o céu
triste véu carmim
fim de tarde cobriu

sexta-feira, 28 de junho de 2013

SENHA

afinidade
não é ter o pau do mesmo tamanho

identidade
não é ser ovo do mesmo ninho

privacidade
não é ter todas as chaves no molho

cumplicidade
não é ter a mesma senha
mas enxergar um cisco além do olho

dizer é correr risco
Do Concerto ao Conserto

há um laço de fina renda
que abraça
e um outro de barbante
que só remenda

há ainda esse nó na garganta


a gente foi mais
longe demais
menos de perto

quinta-feira, 27 de junho de 2013

À Flor dos Pelos


recorrente gravura
no nosso almanaque:

meu monte de vênus

se mistura
com teu cavanhaque

num toque profundo

voo mundo

tua língua dança

lança chamas
me parte ao meio

eu serpenteio

pulso balanço
sem atabaques
Fátuo Fogo

- Não quero -
disse ele 
blasé
cruamente sincero

Ok
au revoir
se não sabe incendiar
não faça pose de Nero

terça-feira, 25 de junho de 2013

Mero Rondó

Pra quem sente fome
não há dor maior

pra quem sente dor
não ar

neste quanto
paramos sem respiro

longe que não se mede
de ti
meu olho pede sorrir

quarta-feira, 12 de junho de 2013

fica na pauta
tudo isto fabrico
com aquilo que falta

quinta-feira, 6 de junho de 2013

SÓ BRIO


entre o cântaro vazio
e a pantera no cio
ouve-se a voz sonora de Baco:

- poeta que se leva muito 
a sério
não confia no próprio taco -

Era pouco e se acabou

quem não tem culhão
não coloca o coração na reta
coragem não é pra qualquer um
poeta

DESDITO


Eu não sou bem-vinda
eu já vim partida
letras tortas fiz
quando quase morta
dor para doar
nunca
nunca quis
com língua ferina
lambo as feridas
infindas

Por que perdoar
se ele não sabe o que diz?

terça-feira, 12 de março de 2013

POLAR


Todo ano tem inverno
tem outono tem inverno
vindo vindo vindo
falta-me tutano
hiberno ausento letargo
findo

O inferno me expiará
com seu amargo regime espartano

terça-feira, 5 de março de 2013

ESTAÇÃO LIBERDADE

atravessou meu túnel
com a liberdade de quem
lanterna
não teme assombrar-se
com a luz

domingo, 17 de fevereiro de 2013





me 
aprendo
vendo

tua 
língua
soletrar-te
os 

monossílabos
do 
meu
corpo